Friday, September 29, 2006

The Economist prevê quatro anos de crescimento mediócre e poucas reformas

A revista britânica "The Economist" dedica a capa de sua edição desta semana, que foi às bancas ontem, à disputa pela liderança na América Latina entre os presidentes do Brasil e da Venezuela.

A matéria principal trata da eleição brasileira deste domingo. Há ainda uma reportagem sobre a campanha venezuelana por um assento rotativo no Conselho de Segurança da ONU. E, por fim, um editorial que liga os dois personagens.

Na reportagem especial sobre as eleições, intitulada "Ame Lula se você for pobre, preocupe-se se não for", a "The Economist" traça um perfil do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e analisa as suas chances de reeleição.

A revista identifica em Lula um administrador pouco eficiente, mas uma figura carismática com a população de baixa renda. Chama-o de "Evita de barba", numa referência à argentina Evita Perón, a protetora dos descamisados. Em nenhum momento o texto se empolga com Geraldo Alckmin.

Apesar de reconhecer avanços na área social, a "Economist" não vê facilidades para o presidente caso ele seja reeleito, e aponta uma tendência de mais quatro anos de performance medíocre no que tange o crescimento da economia.

Argumenta que os escândalos que rondam a campanha devem se tornar empecilhos para a governabilidade do país, pois afastariam de modo peremptório os entendimentos com a oposição.

E isso numa situação em que o governo deve ter um "déficit de representação" no Congresso, o que dificultará ainda mais as reformas de que o país precisa, tão conhecidas que "já viraram até piada".

A revista acena para a disputa presidencial pós-Lula. Elogia o "choque de gestão" em Minas Gerais feito pelo governador Aécio Neves. "Mr. Neves" aparece com uma imagem melhor do que Lula.

Nova previsão do PIBinho (para baixo, claro)

O Banco Central divulgou ontem o relatório trimestral de inflação de Setembro, onde mostra as previsões de inflação corrente e futura e do crescimento do PIB, entre outras coisas.
O BC reduziu sua previsão de inflação para este ano de 3,8% para 3,4%, e para 2007 aumentou, de 4,2% para 4,3. Além disso, reduziu sua previsão de crescimento do PIB deste ano de 4% para 3,5%.
Só o BC ainda não sabia que o PIB não iria crescer 4%. Mas fora isso, o que mais me chamou a atenção na mudança da previsão foi o lado da demanda do PIB (que pode ser analisado sob diversas óticas, entre elas a ótica da demanda): de todos os itens que formam a demanda do PIB (Formação Bruta de Capital Fixo, ou Investimentos; Consumo familiar; Exportações; Importações; Consumo do governo), TODOS, com exceção do consumo do governo, apresentaram redução (ver quadro):

O que isso quer dizer? Quer dizer que o setor privado vai crescer menos e o setor público, aumentar seus gastos. O aumento dos gastos do governo impediu que o PIB caísse mais do que o projetado no novo relatório do BC.
Em resumo: o PIB não vai cair mais porque o governo vem gastando muito. Isso é mau sinal.

Pensamentos aleatórios

Quem anda com aloprados, aloprado é?

Tuesday, September 26, 2006

Lost

Pra quem não aguenta mais ficar sem Lost, dêem uma olhada no vídeo promocional da terceira temporada...


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Tuesday, September 19, 2006

O PT chafurda na lama

Editorial do jornal O Estado de S. Paulo de hoje, p.A2.
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Tendo sangrado o erário em pelo menos R$ 110 milhões vendendo ambulâncias superfaturadas a centenas de prefeituras, a família Vedoin, com os bens bloqueados pela Justiça, aplicou um formidável conto-do-vigário no partido do mensalão, que só serviu para deixar a nu a desenvoltura com que os companheiros do presidente Lula se esbaldam na lama do 'submundo do crime', como disse o candidato Geraldo Alckmin. Pela módica soma de R$ 1,750 milhão - módica perto dos R$ 20 milhões que queriam originalmente tomar do PT -, os vigaristas fariam chegar documentos cabeludos a dirigentes petistas, por interpostos cúmplices, e usariam a imprensa para fazer revelações que comprometeriam com a máfia dos sanguessugas o ex-ministro José Serra, franco favorito na disputa pelo governo paulista, o seu sucessor na Saúde, Barjas Negri, atual prefeito de Piracicaba, e até mesmo Alckmin.
Puro blefe. O material do alardeado 'dossiê' contra os tucanos vale nada. Usadas para dar a entender que eles tinham parte com a fraude, as imagens em que aparecem em entregas de ambulâncias, ao lado de futuros denunciados pela maracutaia, são de uma ridicularia atroz: resumem-se a instantâneos das servidões da política, que não permitem ao administrador público selecionar as companhias em eventos que demandam a sua presença. Já o mesmo não se pode dizer das cenas que mostram o presidente dividindo palanque, em Belém, com tipos notórios da estatura de Jader ('Sudam') Barbalho, Ademir ('Docas do Pará') Andrade e Paulo ('Mensalão') Rocha. Afinal, Lula escolheu tê-los como aliados. Mas nem por isso se o acusará de corrupto. Ou de ter ciência da baixaria que considerou 'abominável', só porque, numa foto de 2002, caminha ao lado do segurança e funcionário palaciano Freud Godoy, acusado de ser o operador da torpeza. Ele se demitiu ontem.
A entrevista dos Vedoins à revista IstoÉ
completa a vigarice. Nela, o executivo da máfia, Luiz Antonio Vedoin, afirma o que negou enfaticamente à CPI dos Sanguessugas, no começo de agosto. No depoimento, apesar do fogo cerrado de parlamentares petistas, negou ter testemunhado ou participado de qualquer ilícito na liberação de recursos para as compras de ambulâncias quando o ministro da Saúde era José Serra. 'Não era eu que fazia o governo liberar, liberava-se normal', recordou. 'Com o José Serra, nem (contribuição) legal, nem ilegal, não foi passado nenhum valor para ele.' Ao semanário, preferiu falar que o pagamento de propina pelas liberações 'era nítido a todos'. O entrevistador não o cobrou pela contradição. Na mesma sexta-feira em que a revista saiu, com um dia de antecipação, a capa bombástica onde se lê 'Os Vedoin acusam Serra/ ´Quando Serra era ministro, foi o melhor período para nós´' estava no horário de propaganda de Orestes Quércia - que decerto conhece a inside story da operação. É em meio a esse lodaçal que se aproxima do fim a mais oca das campanhas eleitorais. Um petista de carteirinha, Valdebran Carlos da Silva Padilha, e um advogado e ex-agente da Polícia Federal, Gedimar Pereira Passos, foram presos enquanto esperavam em um hotel o 'dossiê' que lhes seria entregue pelo tio de Luiz Antonio, Paulo Roberto, não tivesse ele sido detido pela PF em Cuiabá, ao embarcar para São Paulo. Gedimar examinaria a autenticidade do material; estando tudo certo, Valdebran faria o pagamento. Não está claro por que os federais impediram a sua viagem e a dos Vedoins, perdendo com isso a oportunidade de apanhá-los todos em flagrante.
Não está claro, tampouco, por que o órgão policial, cujo titular responde diretamente ao ministro da Justiça, desta vez não chamou a imprensa para fotografar o dinheiro e os pagadores, mas exibiu as peças do 'dossiê'.
O certo é que um crime eleitoral foi cometido a mando de alguém mais importante na hierarquia petista do que o mato-grossense Valdebran, com a autorização ou o conhecimento sabe-se lá de quem, e com dinheiro vivo (dólares e reais) cuja origem precisa ser conhecida não menos rapidamente do que a identidade do(s) criminoso(s). Quaisquer que sejam as conseqüências políticas, é imperioso que a responsabilidade pelo delito - ou pelo 'erro', no jargão do PT - não fique circunscrita a um ou outro solitário companheiro supostamente agindo por conta própria. E isso exige que o conto-do-vigário seja investigado em todas as suas ramificações, com o engajamento do Ministério Público e da Justiça Eleitoral.

Freud explica - 1

Página 4 do jornal O Estado de S. Paulo de hoje.
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Envolvimento com dossiê Vedoin derruba assessor especial de Lula
Procurador da República cogitava ontem pedir a prisão preventiva de Freud Godoy, que depôs na PF
Tânia Monteiro Bruno Winckler Paulo Baraldi
O assessor especial da Secretaria Particular da Presidência da República Freud Godoy, apontado como o petista que contratou os intermediários do dossiê Vedoin, caiu ontem.
Freud acertou sua saída com o Planalto depois de conversar de manhã ao telefone com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Oficialmente Freud deixa o governo por vontade própria.
Como informou o
Estado ontem, o assessor da Presidência foi envolvido a partir de depoimento dado à PF por um dos presos no caso. Na sexta-feira, a PF deteve Gedimar Passos e Valdebran Padilha com R$ 1,75 milhão em um hotel de São Paulo. O dinheiro seria entregue a Luiz Antônio Vedoin, dono da empresa que atuava como pivô da máfia dos sanguessugas. Gedimar disse ao depor que a operação foi acertada com alguém chamado Froude ou Freud.
A PF suspeita que o dinheiro serviria para pagar Vedoin por dossiê destinado a ligar candidatos tucanos ao esquema de venda de ambulâncias superfaturadas. Outra possibilidade é que a quantia servisse para remunerar entrevista concedida por Vedoin à revista
IstoÉ,na qual ele faz acusações contra José Serra, ex-ministro da Saúde, e seu sucessor, Barjas Negri.
Freud é muito próximo do presidente Lula, com quem trabalhou desde os anos 80. Ontem, foi Lula quem ligou para ele. O presidente tinha pressa em resolver o futuro do auxiliar porque, no fim da manhã, deveria embarcar para Nova York.
Lula teria ficado irritado com o
envolvimento no caso de alguém tão próximo dele. 'Pode dormir tranqüilo que tenho como provar que não tenho nada com isso', teria dito Freud ao presidente, segundo relatou mais tarde. No Planalto, colaboradores divulgaram a versão de que o presidente acreditou nele. Mesmo assim, disseram, Lula decidiu afastá-lo.
Decidido o desenlace, foi montada operação para concretizá-lo. Freud fez um pedido de demissão, encaminhado via e-mail para o chefe de gabinete do presidente, Gilberto Carvalho, a quem ele está subordinado. A saída de Freud também passou pela ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil. Com os procedimentos, o presidente Lula acabou embarcando para os EUA com mais de uma hora de atraso. No Diário Oficial da União de hoje, a saída deve aparecer como 'a pedido'.
No início da tarde, Freud se apresentou à PF em São Paulo.
Segundo seu advogado, Augus
to Botelho, houve acareação com Gedimar, que preferiu se manter em silêncio. Botelho considerou a acusação contra Freud 'inverídica, absurda e fantasiosa'. O advogado disse acreditar que Freud foi apontado como contratante por ter nome 'quase cinematográfico' e 'muito fácil de falar'.
O procurador da República Mário Lúcio Avelar cogitava ontem pedir a prisão preventiva de Freud.

Sunday, September 17, 2006

Lula prefere o segundo turno



Mauro Chaves
Disse o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, que o presidente Lula está preparado para se reeleger tanto no primeiro quanto no segundo turno. Se tivesse maior sensibilidade para captar o recôndito da alma presidencial, certamente o ministro entenderia que Lula, embora não se aborreça se ganhar no primeiro, tem sólidos motivos para preferir muito mais sua reeleição no segundo turno.
Antes de mais nada, Lula bem sabe o quanto representa a necessidade de trabalho e emprego nos dias que correm. E o segundo turno nas eleições presidenciais significa mais um mês de trabalho para milhares de pessoas. Os que têm a função de elaborar os programas do horário gratuito no rádio e na televisão - produtores-executivos, diretores, roteiristas, cenógrafos, cinegrafistas, figurinistas, continuístas, músicos, sonoplastas, locutores, pesquisadores, etc.; os incumbidos dos materiais gráficos e têxteis de propaganda, tais como desenhistas, produtores de cartazes, bandeiras, banners, camisetas, bonés, etc.; os encarregados e operadores de equipamentos de som, de transporte, de telemarketing, de logística, os merendeiros, panfleteiros, seguranças, motoristas, enfim, há batalhões de profissionais que, caso a eleição se definisse já no primeiro turno, perderiam repentinamente uma importante - mesmo que temporária - fonte de rendimento.
O segundo motivo relevante
para Lula preferir o segundo turno é o da governabilidade.
Confirmando-se as previsões
segundo as quais o Partido dos Trabalhadores (por sabidas razões) estará minguado depois das próximas eleições, se Lula se reeleger precisará construir uma sólida base de apoio multipartidário, sob pena de ter de afundar-se, de novo, no sistema de cooptação via mensalão.
Ora, que melhor ajuste em prol da governabilidade haveria do
que aquele negociado em função dos indispensáveis apoios para o sucesso eleitoral no segundo turno? O aliado do segundo turno vale mais que o do primeiro, porque é uma força nova, agregadora, com a motivação de quem salta da derrota para a parceria na vitória, com base no sábio mandamento do sucesso, que é o if you can´t beat him, join him.
O terceiro motivo é o da credibilidade, que Lula precisa conectar à sua popularidade - características essas que não se confundem, visto que a ocorrência de uma não implica a existência da outra, mas ambas são necessárias para o êxito de qualquer político, especialmente um chefe de Estado e de governo. Essa credibilidade só poderá ser recuperada quando o eleitor perceber que aquele que pretende continuar exercendo o mais elevado cargo da República está agora, de fato, mais preparado para a função, sob o ponto de vista dos conhecimentos adquiridos, da experiência acumulada, do comportamento ético adotado e de tudo o mais que exija demonstração direta e ao vivo, perante o eleitorado, sem a ajuda dos textos alheios lidos no teleprompter ou dos truques mirabolantes engendrados pelos marqueteiros. Quer dizer, é a credibilidade que deriva da imagem da sinceridade não representada, da competência não fingida e da capacidade de raciocínio que só se comprova nos momentos inesperados dos debates, na superação das dificuldades causadas pelas perguntas, réplicas e tréplicas dos adversários, dentro da prática essencialmente democrática do debate público-político.
Certamente o presidente Lula não se contentará em ser reeleito apenas em razão do 'puro assistencialismo' do Bolsa-Fa
mília, 'que não liberta ninguém da miséria', apesar de significar 'tutti votti garantiti' de dezenas de milhões, como a ele se referiu o companheiro Frei Betto em entrevista recente ao Corriere Della Sera.Um presidente da República 'que agora conhece o mundo e o mundo o conhece', além de votado, tem de ser respeitado. E para voltar a ser respeitado o presidente precisa de mais tempo - pelo menos um mês - para explicar ao País e ao mundo o significado preciso das frases que pronunciou durante seus primeiros quatro anos de gestão, tais como:
'Eu gostaria de ter estudado latim, assim eu poderia me comunicar melhor com o povo da América Latina.'
'A grande maioria de nossas importações vem de fora do País.'
'Se não tivermos sucesso, corremos o risco de fracassarmos.'
'Uma palavra resume provavelmente a responsabilidade de qualquer governante. E essa palavra é ´estar preparado´.'
'O futuro será melhor amanhã.'
'Eu mantenho todas as declarações erradas que fiz.'
'Nós temos um firme compromisso com a Otan.
Nós temos um firme compromisso com a Europa. Nós fazemos parte da Europa.'
'Um número baixo de votantes é uma indicação de que menas pessoas estão a votar.'
'Nós estamos preparados para qualquer imprevisto que possa ocorrer ou não.'
'Para a Nasa, o espaço ainda é alta prioridade.'
'Não é a poluição que está prejudicando o meio ambiente. São as impurezas no ar e na água que fazem isso.'
'É tempo para a raça humana entrar no sistema solar.' Ninguém duvida da sinceridade do presidente quando ele afirma que a maior de todas as suas prioridades é a educação. Mas, como se sabe, um exemplo vale mais do que mil palavras. Ao explicar o sentido das mencionadas frases, o presidente provavelmente estará ilustrando, melhor do que ninguém, o verdadeiro significado do milagre da educação. Por tudo isso, é dever dos que desejam a recuperação do respeito e da governabilidade do presidente Lula votar em outro candidato presidencial, para que por meio do segundo turno se organizem melhor as forças que possam dar efetiva sustentação político-parlamentar ao que comandará os destinos da Nação nos próximos quatro anos.


Mauro Chaves é jornalista, advogado, escritor, administrador de empresas e produtor cultural. E-mail: mauro.chaves@attglobal.net

Tuesday, September 12, 2006

Propaganda(s) 6

Essa é uma colagem dos melhores candidatos de MG


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Propaganda 5

Vote no Menestrel...


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Propaganda 4

Não se esqueçam do nome dele hein


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Propaganda 3

Olhe para a lente da verdade e diga se ele não merece o título de mais bisonho


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Monday, September 11, 2006

Propaganda 2

O Cururu avisa: não é ladrão.


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Propaganda 1

Esse é o Mauricio do Avestruz. Você montaria num bicho desses pra aparecer na televisão? Ao que parece, tem gente sem bom senso:


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Eleição da propaganda mais bizarra, bisonha

Aqui começa a eleição da propaganda eleitoral mais cara-de-pau, cafajeste, sem-vergonha, bizarra, bisonha ou simplesmente engraçada.

Veja o vídeo, escreva um comentário e nele dê uma nota para a propaganda de zero a 10, sendo 10 o grau máximo de bisonhice. Vou fazer uma média e depois publicar a nota de cada um. São oito propagandas. Divirtam-se. Cada país tem os políticos que merece!

Agora todos podem comentar

Agora, nesse blog qualquer pessoa poderá inserir um comentário, diferentemente de antes, quando só pessoas cadastradas no site Blogger podiam.
Então, espero os seus!

Vídeo - Lula por Carlos Vereza


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Saturday, September 09, 2006

Por que o Brasil não cresce?

Segue artigo publicado hoje, dia 08/09/2006, no jornal O estado de S. Paulo, p.2, de autoria dos economistas José Roberto Mendonça de Barros, Luiz Carlos Mendonça de Barros e Paulo Pereira Miguel.

Não nos iludamos. O país está em rota de colisão com o caos.

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Por que o Brasil não cresce?

José Roberto Mendonça de Barros, Luiz Carlos Mendonça de Barros e Paulo Pereira Miguel

O resultado decepcionante do produto interno bruto (PIB) do segundotrimestre plantou a semente da dúvida a respeito das condições decrescimento da economia brasileira, mesmo sob condições aparentementefavoráveis. Não apenas o Brasil está muito atrás dos outros países"emergentes", mas estamos passando a vergonha de crescer menos que aEuropa e o Japão. Os mais otimistas - e certamente o governo, a portasfechadas - estão tentando achar explicações para tão fraco desempenho.Afinal, estão dadas muitas das condições consideradas necessárias paraum crescimento maior e mais consistente que o dos últimos anos. Sãoelas, entre outras: um forte ajuste das contas externas, a queda dorisco País, a convergência da inflação para as metas, alguma redução nataxa de juros real - embora ainda alta sob qualquer critério - e amanutenção de um superávit primário suficiente para estabilizar arelação dívida/PIB. Há ainda uma combinação de estímulos conjunturaisimportantes, que em outras situações seria suficiente para retirar aeconomia da letargia: o crescimento mundial acima de 4% ao ano e aacelerada expansão do crédito e dos gastos públicos.

Poisbem, mesmo com todos estes fatores, num alinhamento astral incomum, oPaís cresceu apenas 1,7% nos últimos quatro trimestres. Não apenas ocrescimento é baixo, mas sua composição é ruim, baseada em consumo eaumento insustentável de gastos públicos. Os investimentos apenaspatinam, há anos abaixo de 20% do PIB, nível insuficiente para ocrescimento sustentado. E, para piorar, mais recentemente o setorexterno deixou de jogar a favor e já contribui negativamente para ocrescimento, tendo retirado quase um ponto porcentual do PIB noprimeiro semestre deste ano, com riscos de prejudicar ainda mais daquipara a frente.

Por que o Brasil não cresce? O ponto de partidada explicação é a simples constatação de que o País não investe osuficiente. Há problemas sérios tanto na política macroeconômica quantonos mal compreendidos "fatores microeconômicos".

No que serefere à questão macroeconômica, não há dúvida que a combinação atualdas políticas fiscal, monetária e cambial está errada e resulta embaixo crescimento. Os gastos públicos estão na raiz da questão: suacontínua expansão compromete a eficiência da economia, pois, financiadapor uma alta e crescente carga tributária, contribui para os jurosaltos e o câmbio valorizado. O resultado é a crescente asfixia doinvestimento privado. O único componente da demanda agregada que estáem expansão continuada é o consumo, público e privado. Todos os outrosestão sofrendo as conseqüências da tentativa do governo de criar ummoto-contínuo baseado em transferências públicas: juros e impostosaltos impedem o crescimento do investimento e a valorização cambialcompromete lentamente a contribuição das exportações líquidas. Oconsumo tem crescido 4% ao ano, mas o conjunto da economia pareceincapaz de crescer mais de 3% ao ano: o PIB está "vazando" cada vezmais para o exterior. Nem o PIB nem o emprego acompanham a expansão doconsumo, até porque os setores mais prejudicados pelo câmbio valorizadosão justamente os mais intensivos em mão-de-obra. Os dados do IBGEmostram que a produção nestes setores já está em queda. Isso não é umfator da natureza, mas resultado de escolhas equivocadas por parte dosresponsáveis pela política econômica. A redução da restrição externa daeconomia brasileira nos últimos anos dá algum fôlego a este modelo, masos custos já estão aparecendo de forma inequívoca.

A respeitodas questões microeconômicas, é evidente que o ambiente não éfavorável. Aí os fatores são muitos, desde os problemas históricos debaixa qualidade institucional, vergonhoso nível educacional e lentidãojurídica, mas também há o insuficiente comprometimento do governo comum ambiente saudável para o investimento. Basta ver o sucateamento dasagências regulatórias, a tolerância com a desordem no campo, averdadeira via-crúcis para aprovação de projetos nos órgãos de defesaambiental e os obstáculos ideológicos à inovação tecnológica. Nãoiremos muito longe com tamanha hostilidade ao que deveria ser objeto deestímulo. Há ainda questões difusas, mas igualmente importantes. Acarga tributária alta resultante da voracidade do Estado impõe, até porquestões de sobrevivência dos que pagam impostos, um crescenteemaranhado de regras, exceções, isenções, pacotes disto e daquilo. Aquilométrica legislação do PIS/Cofins é emblemática. Quanto custa tudoisso para as empresas? Quanto há de corrupção no sistema apenas porconta de regras conflitantes? Deve-se buscar não um alívio aqui eacolá, mas um corte linear de impostos, principalmente dos que têm ofaturamento como fato gerador. Isso só pode ser feito se houvercontrole dos gastos públicos e é para isso que se deveriam mobilizar asforças da sociedade.

Para encerrar, cabe um alerta. O resultadoda bonança externa foi uma notável melhora nas condições definanciamento externo da economia brasileira, mas não estão sendoconstruídas as condições para um futuro promissor. O mundo certamentevai desacelerar em 2007, principalmente os Estados Unidos. A China temgalgado novos níveis de sofisticação industrial e está competindo compaíses intermediários, como o Brasil, em todos os mercados. Em 2007,não tenhamos dúvidas, tudo o que os chineses não venderem aos EstadosUnidos será direcionado para mercados como o brasileiro. O vazamento dademanda interna para o exterior será então ainda maior.

José Roberto Mendonça de Barros, Luiz Carlos Mendonça de Barros e Paulo Pereira Miguel são economistas.


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Luta neste país é à bala

Segue reportagem publicada  hoje no O Estado de S. Paulo, p.10, por Fausto Macedo. Só quem é muito trouxa não acredita que o PT tem envolvimento neste assassinato e no de Celso Daniel.

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´Luta neste país é na bala´, diz viúva de Toninho do PT
Para ela, foi político o assassinato do prefeito, que completa 5 anos amanhã
INVESTIGAÇÃO
Fausto Macedo
Tantos foram os revezes sofridos nas repartições oficiais, no seu partido e até no gabinete do presidente Lula desde que Toninho do PT, seu marido, foi emboscado e fuzilado, que essa mulher está convencida de que no Brasil o crime organizado é vitorioso. 'Não existe democracia porque quem fere os interesses do crime organizado acaba eliminado sem defesa', diz Roseana Moraes Garcia, professora e psicanalista, viúva de Antonio da Costa Santos, o Toninho do PT. 'A luta neste país não é democrática, é na bala.' Roseana organizou ato público marcado para amanhã, na Avenida Mackenzie, em Campinas, onde Toninho foi morto, pelos cinco anos do assassinato do companheiro, que era prefeito da cidade. A 10 de setembro de 2001, às 22h10, um Vectra se aproximou em alta velocidade do Palio de Toninho e pela janela alguém o baleou. Ele morreu ali mesmo, aos 49 anos. É um mistério sem fim para Roseana e os amigos da família.
Foram muitas cartas de Roseana a ministros, secretários de Estado, políticos e até a Lula.
Respostas, nenhuma. Desiludiu-se inclusive de quem esperava solidariedade. 'O Lula me recebeu, mas só depois de muita insistência e não fez nada. Cinco minutos de audiência. Levei a ele um abaixo-assinado com 53 mil nomes pedindo uma investigação decente. Lula disse que ia ajudar. Não ajudou.' 'Antonio foi vítima de um crime de encomenda', suspeita a mulher. Ele havia denunciado fraudes em licitações envolvendo Jacó Bittar, seu antecessor, que era do PT.

Maioria em Campinas vê motivação política
O cadáver de Toninho atormenta o PT, tanto quanto o de Celso Daniel - do mesmo partido -, prefeito de Santo André executado quatro meses depois.
Pesquisa na cidade apon
ta que 70% da população acredita que seu prefeito foi alvo de trama política. 'Foi encomenda', diz Roseana. 'Se eu tinha alguma dúvida, hoje não tenho mais. Políticos que não têm preço, como ele, terminam assim.' Roseana lembra que Toninho tomou 'medidas drásticas' logo que assumiu, que teriam batido de frente em interesses escusos de corporações e de políticos. Havia rompido com o antecessor (Jacó Bittar), sobre cuja gestão recaíam suspeitas de desvios, impôs rigores na delimitação de áreas de proteção ambiental, o que desagradou a grupos imobiliários, e reduziu em R$ 40 milhões o contrato do lixo e em R$ 15 milhões o da merenda escolar.
Roseana é filiada ao PT, mas diz que sua luta é suprapartidária. 'Ninguém se interessa pelo caso, nem o PT nem outro partido, nem o Ministério da Justiça.' Ela mudou-se para São Paulo. Um dia quer voltar a Campinas, não o faz agora porque tem medo. Aponta exceções no PT, gente que a acompanha nessa luta, como o deputado
estadual Renato Simões, o senador Eduardo Suplicy e o presidente do partido em Campinas, Gerardo Melo.
Não aceita a versão de que seu marido foi vítima de Andinho, o bandido condenado a mais de 100 anos de prisão por seqüestros e crimes de morte. 'Andinho já confessou muitos crimes, mas nega ter matado o Antonio.' Suas desconfianças crescem também porque a polícia matou três suspeitos, dois em suposto confronto em Caraguatatuba. Roseana pensa em anular o voto nas eleições. 'O Antonio foi morto porque estava atrapalhando o trânsito de quadrilhas formadas no poder. Sou uma mulher sozinha gritando.' Na quarta-feira, Lula falou sobre o caso. 'A Polícia Federal foi, sim, colocada à disposição da Justiça nesse caso. Ocorre que, quando assumi a Presidência, o Ministério Público havia apresentado denúncia e, portanto, já existia ação penal. Quando uma ação penal está em curso a polícia só pode realizar diligências a pedido da Justiça, o que não ocorreu.' O promotor de Justiça Fernando Vianna diz que 'não há nada' que indique motivação política ou premeditação. O Ministério Público denunciou formalmente o seqüestrador Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, como autor do crime.
A polícia sustenta que Andinho e seu grupo atiraram porque Toninho estaria fechando involuntariamente a passagem do carro dos bandidos. 'Nunca descartamos que esta (
queima de arquivo) poderia ter sido a motivação.
Mas não há nenhuma prova', diz Vianna.
F.M.


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Carta aberta aos eleitores do PSDB

Segue carta escrita pelo presidente Fernando Henrique Cardoso nesta semana.

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CARTA AOS ELEITORES DO PSDB

Brasília (7 de setembro) - Atravessamos um momento paradoxal: de aparente desconexão entre o que é o sentimento da opinião pública e o discurso eleitoral rotineiro; de tanta desfaçatez dos que ocupam o poder e de tanta informação sobre a corrupção e os desmandos de quem deveria dar as pautas de comportamento pensando mais na Nação que em seus umbigos e nada mais faz do que se jactar de grandezas inexistentes. Diante disso, resolvi me dirigir aos militantes, simpatizantes e eleitores do meu partido, e mesmo às pessoas de boa fé que olham a política com atenção, embora sem se envolver na vida partidária, para expor com franqueza algumas questões que me parecem essenciais para que o PSDB possa continuar a contribuir para uma mudança de mentalidades e de práticas no Brasil.

Para que não pairem dúvidas: é do Presidente e de seu partido (ou deveria dizer ex-partido?) que falo acima, pois são eles, inquestionavelmente, os responsáveis por deixar que os piores setores da política ocupem a cena principal, expondo o país às misérias a que todos assistimos indignados. E mais indignados ficamos quando vemos o Presidente e seus arautos passarem a mão na cabeça dos que "erraram" (como se eles próprios não fossem os culpados) com a desculpa de que "todos são iguais" ou, então, em versão mais sofisticada da mesma falta de vergonha, dizerem que "a culpa é do sistema".

Comecemos por aí. Há muita confusão no ar no trato das questões morais. Moral se refere a condutas individuais. Uma coisa é a discussão filosófica sobre a ética, os fins últimos ou o que seja. Outra é a responsabilidade moral: quem transgride as leis, os costumes, as práticas aceitas em uma comunidade, pode fazê-lo em nome do que seja, de um partido, um ideal, uma paixão. Responderá pela transgressão perante a comunidade e estará sujeito às penalidades do caso.

Pagar mensalão é crime e como crime deve ser tratado. Pagar mensalão para deputados, comprar seus votos, não é igual sequer a outra transgressão, a de não declarar dinheiro obtido para a campanha eleitoral, o "caixa dois". A razão é simples: no caso do caixa dois, a fonte do dinheiro usado geralmente é privada, embora nem sempre o seja, e o objetivo é ajudar algum candidato individual em sua eleição. O candidato e seus financiadores devem responder por essa ilicitude eleitoral. No caso do mensalão a fonte foi pública; é roubo do dinheiro do povo, ainda que empréstimos fictícios de bancos privados tenham sido usados para encobrir esse fato. Os arrecadadores obedeciam a diretrizes de um partido, com a cumplicidade de partes da administração. A prática deu-se sob o olhar benevolente de ministros e mesmo com a cumplicidade de alguns deles (refiro-me à acusação do Procurador Geral da República). O próprio Presidente, que é responsável pelos ministros, não tendo atuado para demiti-los nem depois do fato sabido, é passível de crime de responsabilidade. E, mais do que simplesmente corromper pessoas, corrompeu-se uma instituição, o Congresso Nacional.

Isso não quer dizer que o sistema eleitoral vigente seja bom ou que não precise ser mudado. Entretanto, apenas culpar "o sistema" e escapar da responsabilidade pessoal é um sofisma que nada tem a ver com comportamento moral. São as pessoas, cada uma de acordo com sua participação no delito e de acordo com a gravidade de sua atuação individual, que devem responder pelas transgressões, e não qualquer idéia abstrata de "sistema". Este pode e deve ser mudado. Mas as pessoas que cometeram crimes precisam ser punidas. A impunidade, a postergação de decisões da Justiça sobre os presumivelmente culpados (vide o caso que deu origem a presente série de escândalos, o de Valdomiro Diniz) desmoraliza tudo, desanima a população e dá a impressão de que o povo é indiferente à corrupção. Não é indiferença, é descrença na punição.

Pois bem, nós do PSDB não fomos suficientemente firmes na denúncia política de todo esse descalabro no momento adequado. Não será agora, durante a campanha eleitoral, que conseguiremos despertar a população. Mas, para nos diferenciarmos da podridão reinante, temos a obrigação moral de não calar.

É verdade que também somos responsáveis pelo que hoje se vê: a cada dia mais corrupção; a cada dia, menor reação. Erramos no início, quando quisemos tapar o sol com a peneira no caso do senador Azeredo. Compreendo as razões: ele é pessoalmente decente; tudo se passou durante a campanha para sua reeleição como governador, que afinal ele perdeu. Mesmo assim, calamos muito tempo e sequer dissemos o que sabemos: entre os responsáveis pelas finanças de campanha do então governador estava seu vice, hoje ministro do Presidente Lula. Nem isso dissemos com força! Mas não por isso podemos calar diante do descalabro. Ainda que o eleitorado não nos acompanhe neste momento, deixaremos as marcas de nosso estilo, de nossas atitudes, para calçar um futuro melhor para o país.

Para que o PSDB se justifique perante o eleitorado como uma força renovadora ele tem que se distinguir. A podridão que encobre "a política" está nos transformando em vultos. Precisamos reganhar nossa cara.

Nosso candidato à Presidência tem as mãos limpas. Tem história de seriedade. Por que não bradar isso com força? Por que não fazer o contraponto com o outro lado. Nada a temer nem a esconder. Geraldo Alckmin pode dizer o que Lula não pode porque sua história não passa por acusações de suborno a prefeituras. Ele não tem que explicar, como Lula, por que tendo tanto dinheiro vivo (e quanto!), não paga dívidas. Por que ora diz nunca ter ouvido falar de sua dívida no partido, ora que a discutiu, mas não a reconhece. Enfim: faltam condições morais a um e sobram a outro. Essa é a diferença. E este é o ponto de partida para recuperar o reconhecimento público do valor da política. Sem que haja uma diferença entre bons e maus, a geléia geral predomina e elegeremos de cambulhada um Congresso no qual os sanguessugas e mensaleiros derrotados serão substituídos por outros prestes a reviver a mesma história.

O não à corrupção, não nos iludamos, é a condição para o futuro, tanto do país como nosso. Mas não basta a diferenciação moral. Há problemas urgentes que afligem o povo e sobre os quais não podemos calar. O mais angustiante é o medo: medo do crime, da violência. Também neste caso o PSDB tem responsabilidades e tem o que dizer. Em São Paulo, para cingir-me ao estado que foi governado por Alckmin, as taxas de homicídio e latrocínio caíram fortemente graças à ação da polícia. Nunca se prendeu tanto, a um ponto tal que a cada mês há mais 800 presos, descontando-se os que são liberados. Para atendê-los seria preciso construir uma penitenciária por mês! Resultado: o sistema prisional está abarrotado e, há que reconhecer, não foi capaz de dar tratamento adequado à massa de presos, criando um caldo de cultura para a criminalidade e deixando ao PCC espaço para demagogia em nome da melhoria de condições de vida dos prisioneiros. Sem falar no uso continuado de celulares, da cumplicidade entre criminosos e advogados, às vistas cúmplices, algumas vezes, das autoridades carcerárias. Reconhecer isso não é desmedro. O governo federal, à parte a demagogia recente de oferecer o que não tem (a Força Pública Federal) ou o uso instrumental das Forças Armadas para tarefa que não lhes compete, não transferiu no momento oportuno os recursos do Fundo de Segurança Pública, criado no governo anterior, nem se empenhou pela aprovação pelo Congresso das mudanças necessárias nos codigos de Processo Penal e de Execuções Penais.

Diante desse descalabro, o PSDB e seus candidatos têm discurso: assim como se mostraram capazes de prender, saberão, no governo federal e nos estados, criar melhores condições no sistema prisional, sem deixar de serem duros no combate ao crime organizado e a todas as formas de delito. Empenhar-se-ão para que haja maior diferenciação nas penas, utilizarão, com apoio da Justiça, as penas alternativas, endurecerão, como o governo de São Paulo já fez, o tratamento dos criminosos de alta periculosidade, aplicando-lhes tratamento diferenciado, causa aliás do horror que o PCC tem ao PSDB. E sobretudo, batalharão pela aprovação das medidas que estão no Congresso e que permitem a ação unificada das polícias civis e militares e a intensificação do uso dos serviços de inteligência, incluindo os das Forças Armadas. Nada disso, entretanto, tornará o PSDB indulgente com quem pensa que polícia está ai para baixar o porrete e matar, nem com a confusão inaceitável entre pobreza e crime, periferia e PCC . Sem esquecer que se os governos do PSDB tiveram êxitos em baixar as taxas de homicídios e latrocínio - crimes da alçada estadual - o mesmo não se poderá dizer do governo Lula sobre os crimes de alçada federal: o contrabando de armas e de drogas.

Há, portanto, razões de sobra para não temer a discussão do crime, das drogas e da violência, temas que tanto preocupam o povo. E há como nos diferenciarmos das forças governistas no debate. Esta diferenciação é essencial. Se não, por que votar em nós? Essa diferenciação começa no aspecto moral mas avança em tudo mais. Não quero cansá-los, mas é descabido aceitar que a política econômica atual seja a continuidade da nossa. Sim e não. Mantiveram o que era óbvio (metas de inflação, câmbio flutuante e superávits primários), pois do contrário já estaríamos a ver os protestos das donas de casa contra a inflação e a carestia. Mas, sem avanços nas reformas e sem ousadia diante de um panorama favorável na economia mundial, o custo da aplicação dessas medidas será grande. Sem reforma da Previdência (o que foi aprovado não teve seqüência nas leis complementares e portanto nada mudou de fato), tornou-se impossível baixar os juros há mais tempo. Assim, para manter a boa apreciação dos credores internos e externos, o superávit primário teve que se manter nas alturas, sufocando os recursos para a construção de estradas e da infra-estrutura em geral. Quem pagou o preço? O povo, através dos impostos.

Agora, diante da conjuntura eleitoral e para compensar os anos de carência, veio a bonança às custas do futuro: aumentos de salário, expansão das bolsas, expansão do crédito, antecipação do décimo terceiro salário dos funcionários etc. Não havendo um incremento significativo dos investimentos (a taxa, em moeda corrente, anda abaixo de 20% do PIB há vários anos) e havendo a ampliação do gasto público, é só a conjuntura internacional mudar e pagaremos o custo da crise fiscal, das ineficiências acumuladas, da falta das reformas, tudo sempre revestido da maior empáfia dos que pensam que "nunca neste país, se fez mais e melhor do que neste governo". A verdade é que há uma gastança irresponsável e um novo inchaço do governo, sem nenhuma preocupação com a qualidade dos gastos.

Isso sem esquecer do "aparelhamento" do estado, com as sucessivas nomeações de "companheiros" e aliados, sem a devida qualificação técnica. Processo que alcança grau máximo de irresponsabilidade quando são nomeados políticos derrotados ou apaniguados para ocuparem posições nas agências reguladoras, causando temor nos investidores dada a politização de uma área do governo cuja respeitabilidade e independência técnica é essencial para atrair investimentos. Que ninguém se iluda: o PSDB não se fia no mercado como o promotor do bem estar social. Nós sabemos que a ação do Estado é essencial. Mas de um Estado verdadeiramente democrático e republicano, que não se deixa usar pelos interesses privados, de partidos, pessoas ou empresas e que não se encastela em uma burocracia arrogante e pouco competente que , no final das contas, acaba por servir apenas ao capital, repudiando-o onde ele é necessário (nos investimentos) mas cedendo ao que seus piores segmentos desejam concedendo privilégios ao alvedrio do poder.

Na linha de assumir posições claras e firmes, o PSDB deve aproveitar as pressões mais do que justificadas por uma reforma eleitoral para iniciar a pregação, desde já durante a campanha eleitoral, das vantagens do voto distrital. A principal delas é que o voto distrital quebra a espinha do atual sistema que induz à corrupção e à desunião partidária. Hoje o candidato compete fortemente com seus companheiros de partido, pois sua eleição depende do número de votos que tiver, em contraposição ao número obtido por outros candidatos do mesmo partido. Além disso, cada candidato "pesca" votos no âmbito de todo o estado. Como a lei eleitoral permite que cada partido lance candidatos correspondentes ao dobro do número de cadeiras que cada estado tem no Congresso, em um estado como São Paulo serão 140 candidatos por partido. Supondo que depois da lei de barreira sobrem sete partidos, poderão estar competindo 980 candidatos pelo voto dos 25 milhões de eleitores paulistas. Isso obriga o candidato a esparramar sua campanha por todo o estado (o que custa caro) e leva à dispersão de responsabilidades: o eleitor se esquece em quem votou, no emaranhado de candidatos, e o candidato, uma vez eleito, não sabe, de fato quem são seus eleitores.

Na insegurança, e pensando na reeleição futura, o deputado (como já teria feito o candidato) vai estabelecer uma rede de segurança apoiando-se em prefeitos e eventualmente em alguma empresa, aos quais busca prestar favores, numa versão atualizado do velho clientelismo (que subsiste nas zonas mais pobres do país) que intercambiava votos por favores prestados diretamente ao eleitor. Essa é a sementeira da corrupção: uma emenda no orçamento ajuda o prefeito, ajuda a empresa amiga. Para realizá-la o deputado exerce a função de despachante de luxo: negocia com pessoas da administração federal tanto a área de aceitação da emenda como, mais tarde, aprovado o orçamento, a respectiva liberação das verbas: está fechado o circuito das sanguessugas, sendo que o das ambulâncias, provavelmente, foi apenas um dos muitos circuitos existentes. No meio do caminho, as propinas e vantagens.

O voto distrital acaba com isso ou pelo menos dificulta muito. Por que? Porque em cada distrito cada partido lança apenas um candidato (não há mais a concorrência destrutiva da coesão partidária), o eleitor sabe mais facilmente em quem votou e pode acompanhar o desempenho do eleito em função dos interesses do distrito. Mesmo no caso de São Paulo, onde forçosamente os distritos serão compostos por cerca de 350.000 eleitores (25 milhões divididos por setenta cadeiras) torna-se muito maior a proximidade entre eleitor e eleito e, portanto, se torna mais fácil cobrar do candidato e obrigá-lo a prestar contas: na próxima eleição serão os mesmos 350.000 eleitores que escolherão entre sete pessoas, uma delas já no cargo e as outras seis denunciando irregularidades, se as houver, praticada pelo deputado que busca a reeleição. E torna menores os custos das eleições.

Pode haver uma discussão sobre a substituição do sistema atual de voto proporcional e uninominal pelo de "listas fechadas" dos partido, sistema no qual o eleitor vota na legenda e não em pessoas e os candidatos ocupam as vagas ganhas pelo partido na ordem definida pela direção partidária. O inconveniente deste sistema é que as oligarquias partidárias terão mais força para ordenar a lista e, como entre nós o voto é muito personalizado, o eleitor se distanciará ainda mais do candidato. Também é possível adotar um sistema de voto distrital misto. Este tem a vantagem de assegurar mais claramente as opiniões minoritárias e a votação em candidatos cuja base é dispersa, dado que seu apoio vem da opinião de eleitores distribuídos pelo espaço estadual. O maior inconveniente é a dificuldade de compreensão do sistema pelo eleitor e sua aplicação na prática. Entretanto, se esta for a solução para uma convergência política, não vejo porque o PSDB iria se opor. A defesa do voto distrital puro está baseada em que a lei de barreira já restringirá, de qualquer modo, a chance dos mini-partidos e o voto de opinião será mais facilmente acolhido nos distritos metropolitanos, o que levará os partidos a apresentarem candidatos com estas características para vencer as eleições distritais.

Há outros temas nos quais o PSDB pode e deve marcar sua identidade. Temas que afligem os brasileiros e para os quais há soluções. Mencionei apenas os politicamente mais candentes, embora nem sempre se refiram às questões estruturais. Entre estes a educação prima. O PSDB tem a responsabilidade de lutar por seu legado. O que fizemos no governo federal e em alguns governos estaduais em matéria educacional é muito valioso. Não se trata apenas do aumento da matrícula em todos os níveis do ensino, mas de uma mudança de mentalidade: a preocupação com avaliar e a introdução de novas técnicas de avaliação de resultados, a diferenciação de salários de acordo com o desempenho dos professores, a formação de fundos de pesquisa (infelizmente contingenciados), e assim por diante. Cabe-nos agora inovar mais. O grande desafio será o da extensão do tempo de permanência das crianças nas salas de aula, o aumento do salário dos professores, sua melhor qualificação, e a generalização do uso dos computadores. Tudo isso é factível e nós sabemos como fazê-lo, sem misturar educação com propaganda nem transformar cada programa em nova trincheira partidária, com a nomeação de apaniguados e militantes .

O mesmo se diga sobre saúde, reforma agrária (é clamoroso o que o governo atual faz de errado e lento nesta área, pela qual fomos tão criticados e na qual tanto fizemos). E não devemos temer a Bolsa-família. Ela não apenas resultou de programas que nós criamos (inclusive a preparação técnica para a unificação dos programas) como vem sendo desvirtuada pela velocidade eleitoreira com que cresce e pelo descuido na verificação da satisfação de requisitos para sua obtenção. E sobretudo porque tem sido feita no embalo da pura propaganda eleitoral, tornando um propósito saudável, pois inauguramos estes programas como um "direito do cidadão", numa benesse do papai-Presidente. Na verdade por este caminho formar-se-á uma nova clientela do governo. Se a ela somarmos a clientela dos assentados pela reforma agrária que não são emancipados, quer dizer, que não produzem para pagar seus compromissos e dependem a cada ano de novas transferências de verbas orçamentárias, estaremos criando o maior exército de reserva eleitoral da história. Aí sim caberá o "nunca se viu neste país..."!

Para gerar empregos e transformar os programas assistencialistas, embora importantes, em pontes para o verdadeiro bem estar (que depende dos programas universalistas na saúde, na educação e, sobretudo na geração de empregos de melhor qualidade) não cabe dúvidas de que o PSDB, sem se atemorizar com slogans do tipo "governo neoliberal" (mesmo porque, se for para adjetivar, a nenhum governo caberia melhor o epíteto do que ao do PT), deve pregar e praticar uma revolução capitalista, ou, nas palavras usadas há tanto tempo no discurso de Mário Covas, um "choque de capitalismo". Não podemos continuar meio envergonhados cada vez que o PT e seus aliados falam de "privataria". Privatizamos sim, e nada temos a esconder no processo de privatização: tudo foi feito em leilões públicos, com preços que quando foram estimulados pelo governo foi para sem maiores e se maiores não foram em certos casos (por exemplo, na Light do Rio de Janeiro, ou na Vale do Rio Doce) foi porque o "mercado" avaliou que, nas condições da época, mais não valiam, quer dizer: não havia empresas dispostas a comprar pelo preço estipulado porque o consideravam alto. O empenho do governo foi para que houvesse mais lances, tal era o temor do capital privado (sobretudo o nacional) que considerava elevados os valores mínimos dos leilões. Algumas dessas empresas tiveram um sucesso estrondoso graças ao trabalho que desenvolveram, caso da Vale, hoje controlada basicamente pela Previ e pelo Bradesco. Outras tiveram menos sorte: os capitais franceses investidos na Light, aliás estatais, certamente não se recuperaram na recente venda da empresa à Cemig e à Telemar.

É preciso dizer com todas as letras e toda a força que a privatização da Telebrás foi um sucesso absoluto, que o preço pago pelo que o Estado possuía dela (20% do capital total, embora de controle) talvez não corresponda hoje ao valor total das empresas de telecomunicações e que o povo se beneficiou enormemente, dispondo o país de um moderno sistema de comunicações, sem o qual não haveria internet nem modernização produtiva. E dizer também que no setor elétrico houve fracasso: privatizamos apenas a distribuição de energia e a Eletrosul, permanecendo nas mãos do governo Furnas, Chesf, Eletronorte e, naturalmente, Itaipu, que por seu caráter especial não deve mesmo ser privatizada. Resultado: é só ver as estatísticas sobre investimentos no setor (que não dispõe de um modelo claro e competente, indutor de parcerias com o setor privado) para entender porque vira-e-mexe fala-se de apagão. Não o de 2001, conseqüência da má gerência e da falta das águas, mas da falta de investimentos para geração nova de energia. E a privatização da Rede Ferroviária Nacional, acaso não foi um êxito?

Sendo assim, o PSDB não deve alimentar dúvidas metafísicas sobre se teria sido certo ou errado privatizar. Não que tudo deva ser privatizado: jamais aceitamos a privatização do Banco do Brasil, da Caixa Econômica e da Petrobrás, por exemplo. Mas no governo do PSDB essas organizações não serviam de instrumento de politicalha, como agora no caso da quebra de sigilo na Caixa ou do valerioduto no BB, sem falar das compras de navio pela Petrobrás em estaleiros inexistentes, ou na diminuição do ritmo da exploração do petróleo. É preciso devolver a estas grandes organizações seu caráter de "corporações públicas" que atuam no mercado e não estão sujeitas à ingerência de políticos, obedecendo apenas às políticas de estado.

 Se não devemos fazer da privatização objetivo único e nem mesmo central do governo, tampouco podemos desprezar a colaboração do capital privado nacional e estrangeiro com o governo, sobretudo nas obras de infra-estrutura e no terreno em que temos melhores promessas de futuro, o das energias renováveis. Onde estão as PPP? Nenhuma saiu do papel, sem esquecer que quando privatizávamos, o Tesouro recebia recursos dos particulares enquanto que agora, com a filosofia lulista das PPP, dá-se o contrário: é o Tesouro quem dá dinheiro aos particulares para que eles invistam... Mas não são benesses o que o capital privado sério mais deseja, são outras coisas: regras firmes e transparentes. Ou voltamos a dispor de agências regulatórias com o espírito com o qual as criamos, de independência para garantir ao mesmo tempo o interesse do consumidor, o dos investidores e o nacional, ou veremos a politiquice prevalecer sobre tudo o mais, como já ocorre hoje de forma incipiente na ANATEL na ANP.

Digamos claramente também que o PSDB sabe que para retomar o crescimento com consistência, além das reformas, será necessário aumentar o investimento público em infra-estrutura e cortar impostos, simultaneamente. Esta "mágica" só se faz quando o governo está decidido a melhorar a qualidade do gasto, cortando programas desnecessários, sendo comedido na concessão de benesses e, garantidos os eventuais direitos, enxugando a máquina pública. Ou seja: fazendo o contrário do que faz o atual governo.

Por fim, para não me alongar mais, chega de dizer bobagens sobre a globalização, como se fosse culpada de nossa própria incapacidade. Chega de agir na prática como se acordos comerciais, tipo ALCA, fossem projetos imperialistas de anexação de território. São sim projetos de grupos de poder e interesse, diante dos quais temos de prezar e defender os nossos, e não enfiar a cabeça na areia e imaginar que na escuridão há "uma outra política", na verdade de um antiquado "terceiro-mundismo". O PSDB precisa assumir sua contemporaneidade. Queremos sim integrar-nos ao mercado internacional, o que não quer dizer submetermo-nos aos caprichos das potências dominantes, sejam os EEUU, a China, ou quem for. Nem quer dizer, por outro lado, que nos de-solidarizaremos dos países mais pobres ou que o mercado destes bem como o dos países de economia emergente não nos interessa. Esta postura claramente integradora na economia mundial obriga-nos simultaneamente a ter posições ainda mais firmes de repulsa às doutrinas da "guerra preventiva", estas sim imperialistas no campo político e ideológico. Da mesma maneira repudiamos a crença no destino manifesto das grandes potências para estabelecer à força a forma de democracia que lhes parece a mais adequada.

Enquanto hesitamos na política externa, dando margem à difusão de que acreditamos que para combater o hegemonismo político-ideológico é preciso seguir a tradição populista latino-americana, nada fazemos para garantir acordos comercias que nos interessam, isolando-nos cada vez mais em um Mercosul enfraquecido por nossa falta de liderança. Resultado: nem ALCA, nem acordo com a União Européia, nem qualquer outro acordo bi-lateral. O PSDB precisa ter uma posição mais clara sobre tudo isto.

Em suma, se quisermos exercer uma liderança renovadora precisamos manter os antigos compromissos democráticos, radicalizando-os, através da reforma política com a introdução do voto distrital e da fidelidade partidária; precisamos reatar os fios entre o partido e a sociedade, buscar o diálogo com os sindicatos e movimentos populares (agora mais fácil pela quebra do hegemonismo petista). A visão moderna de democracia impõe a participação ampliada da cidadania no processo deliberativo, inclusive senão que principalmente, na rotina partidária, revigorando, as prévias para a seleção dos candidatos. Precisamos romper os vínculos ideológicos que ainda nos prendem à visão estatista-desenvolvimentista e rechaçar todas as formas de populismo, substituindo-as por práticas genuinamente populares com a presença mais ativa dos cidadãos e militantes na formatação das políticas do partido e na implementação dessas nos estados em que governamos. Precisamos assumir que, no contexto atual, ser progressista é lutar para democratizar a sociedade, sustentar políticas que reduzam a pobreza até sua eliminação, gerando empregos sem contentar-nos com o necessário assistencialismo e sem ficarmos embaraçados com a forma capitalista do crescimento da economia, à espera do novo Godot, a "revolução salvadora". Esta não está em nosso horizonte histórico, embora o ideal da Justiça possa e deva continuar a motivar nossos corações a lutar cada vez mais pela redução das desigualdades sociais.

Fernando Henrique Cardoso
 
     
 
 
     
  Fonte: Agência Tucana

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Estou em campanha

Estou em campanha. Sou tudo o que o Lula abomina. Eu sou o anti-Lula. Sou um incômodo, para ele e seus simpatizantes. Tudo o que quero é vê-lo apeado da cadeira presidencial. Se eu tivesse poder para isso, já o teria feito.

O Lula é tudo o que atrasa esse país. Ele e seus simpatizantes, que acham graça nas esmolas que ele dá, ao invés de cobrarem dele as mudanças que o País precisa. Estaremos no caos daqui a dois anos.

O Lula é a minha obsessão. O papai-presidente é o que há de pior na política nacional. Pior que o PP. Que o PL. Pior que tudo. Ele é o pai da gangue. O anti-democrata. O "pai dos pobres" que não ensina o filho a pescar.

Estou em plena campanha. Sou o anti-lula.