Thursday, July 20, 2006

A guerra Israel-Hezbollah

Decidi publicar aqui alguns artigos interessantes sobre o mais novo conflito do Oriente Médio. É uma região em guerra há dois séculos. Não é uma situação que se resolva só com vontade política.

Os artigos abaixo servem para que você possa refletir sobre o assunto. Foram publicados originalmente na edição de quarta-feira, 19 de julho de 2006 no O Estado de S. Paulo:

Israel está alimentando o inimigo
Nicholas D.Kristof*
U ma das maiores tragédias do Oriente Médio é a 'síndrome do bumerangue'. Árabes impacientes apoiaram a violência e assim colocaram Ariel Sharon e agora Ehud Olmert no poder em Israel, deixando os pacifistas israelenses totalmente desacreditados. Alguns árabes indignados com seus desconfortos diários apoiaram as provocações que agora multiplicam o sofrimento tanto em Gaza como no Líbano.
Temo que israelenses impacientes caiam agora na mesma armadilha. Sentindo-se ultrajados com os ataques e seqüestros, os israelenses intensifica
ram o conflito, lançando um ataque ao Líbano que pode tornar a vida em Israel muito mais perigosa nos próximos anos. É fácil simpatizar com a revolta dos israelenses, particularmente porque os ataques contra seu país se seguem às retiradas de Israel, primeiro do Líbano e depois da Faixa de Gaza.
Mas os vencedores neste conflito, a médio e longo prazo, provavelmente serão os partidários da linha dura em todo o mundo muçulmano.
Os regimes iraniano e sírio são ilegítimos, incompetentes e impopulares, mas conseguem explorar o ódio nas imagens da televisão vindas do Líbano, que significam novas esperanças para eles próprios. Os apelos de extremistas paquistaneses por uma jihad (guerra santa) serão reforçados. No Sudão, o presi
dente Omar Hassan al-Bashir deverá arregimentar o ódio popular para resistir contra as forças de paz das Nações Unidas em Darfur. No Iraque, a simpatia pelos xiitas libaneses poderá fortalecer as milícias xiitas extremistas do próprio Iraque.
Ao mesmo tempo, não está claro o que Israel pode conseguir militarmente no Líbano.
Os 12 mil mísseis controlados pelo Hezbollah não são mantidos em arsenais, mas em casas e armazéns que passam despercebidos, e assim não é seguro que Israel consiga destruir mui
tas dessas armas. Se os israelenses insistirem numa guerra aérea limitada durante algumas semanas, só produzirão imagens de libaneses ensangüentados para a televisão, provocando a cólera do mundo, mas não conseguirão qualquer mudança substancial de poder no terreno.
Até este mês, o Hezbollah estava na defensiva no Líbano, pressionado para se desarmar e considerado um peão da Síria e do Irã. A Al-Qaeda até tentou assassinar o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah.
No entanto, agora Nasrallah, um dos mais astutos políticos da região, seqüestrou não só soldados israelenses, mas o conflito do Oriente Médio. Ele poderá até mesmo sair desta guerra mais respeitado por sunitas e xiitas.
Uma regra empírica no Oriente Médio é que qualquer pessoa que faça prognósticos seguros está sendo muito dogmática para que valha a pena escutá-la. Talvez eu esteja errado e Israel consiga atingir suas metas de segurança a curto prazo, pois é possível que esta guerra empurre o Conselho de Segurança das Nações Unidas e o próprio Líbano no sentido de desarmar o Hezbollah.
Contudo, a preocupação também é a longo prazo, e a fúria contra Israel será muito mais difícil de destruir do que os foguetes Katiusha do Hezbollah.
Viajei de carona pelo Líbano e região quando estudante em 1982, logo depois da invasão israelense. Embora a Síria tivesse massacrado recentemente cerca de 10 mil a 20 mil membros de sua população em Hama - o centro da cidade estava em ruínas -, muitos árabes não sabem que sírios matam sírios e estão enraivecidos porque israelenses mataram árabes. Pode não ser justo, mas a realidade é esta: o poder de Nasrallah hoje deve-se em parte aos bom
bardeios israelenses de 1982.
Da mesma forma, o sucessor radical do xeque em 2030 será levado ao poder em parte por causa dos bombardeios israelenses de 2006. 'É simples nos unirmos emocionalmente à guerra de George Bush contra o eixo do mal',
afirmou o jornal israelense Haaretz num editorial, 'mas é preciso lembrar que, no fim do dia, são os cidadãos de Israel e não os americanos que precisarão continuar vivendo no Oriente Médio. Portanto, precisamos pensar em meios que tornem possível a coexistência, mesmo com aqueles que não gostaríamos que estivessem conosco.' A longa experiência mostra que Israel não pode refrear as redes privadas de terror, mas pode conter os Estados. A Síria, por exemplo, despreza Israel, mas não lança foguetes nem seqüestra soldados. Dessa forma, Israel poderia se beneficiar de Estados mais firmes no Líbano e Gaza, que controlem efetivamente seus territórios. Mas, pelo contrário, as mais recentes ofensivas israelenses fomentam a anarquia tanto ao norte como ao sul, nutrindo potencialmente grupos militantes que não estão sujeitos ao modelo clássico de repressão.
Se Israel quer alcançar uma verdadeira segurança, temos uma boa idéia sobre como conseguir isso, ou seja, a solução de dois Estados, nos termos do acordo acertado em Genebra em 2003 entre pacifistas israelenses e árabes. Os combates
no Líbano afastam cada vez mais essa possibilidade - e, nesse sentido, cada bombardeio prejudica o futuro tanto de Israel como do Líbano. ?


* Nicholas Kristof é colunista do jornal ´The New York Times´


Aconteça o que acontecer, Israel não deve reconquistar o que perdeu



Richard Cohen*
N o m omento, o maior engano que Israel pode cometer é esquecer que ele próprio é um erro. Um erro honesto, bem intencionado, pelo qual ninguém é culpado, mas a idéia de criar uma nação de judeus europeus numa região de muçulmanos árabes (e alguns cristãos) produziu um século de guerras e terrorismo similares ao que estamos presenciando hoje. Israel combate o Hezbollah no norte e o Hamas no sul, mas seu maior inimigo é a própria história. É por isso que a guerra árabeisraelense, que se transformou numa guerra entre israelenses e muçulmanos (o Irã não é um Estado árabe), persiste e se amplia, e o conflito muda e se inflama. É por isso que Israel combate hoje uma organização, o Hezbollah, que não existia há 30 anos, e por isso o Hezbollah é apoiado pelo Irã, que outrora foi um aliado tácito de Israel. O ódio fundamental e subterrâneo que o mundo islâmico nutre pelo Estado judeu é apenas um borbulho na superfície. Os líderes da Arábia Saudita, Egito, Jordânia e alguns outros países árabes podem condenar o Hezbollah, mas duvido que o homem da rua compartilhe essa opinião.
De nada vale condenar o Hezbollah. Os fanáticos não se submetem à razão. E também não adianta condenar o Hamas. Trata-se de um fétido grupo anti-semita, cujo princípio de organização é o ódio por Israel.
Contudo, vale a pena advertir Israel para se conter - não por causa dos seus inimigos, mas para o bem do próprio país.
Aconteça o que acontecer, Israel não deve usar sua força militar para reconquistar o que já perdeu: a zona-tampão no sul do Líbano e a Faixa de Gaza.
Os críticos de linha dura de Ariel Sharon, o líder israelense (hoje em coma) que iniciou a retirada de Gaza, sempre afirmaram que Gaza se tornaria um abrigo de terroristas, que a Autoridade Palestina moderada
não conseguiria controlar os militantes e que a região seria utilizada para o disparo de foguetes e o lançamento de ataques terroristas contra Israel.
Foi exatamente o que aconteceu. É verdade também, como outros alertaram, que a saída de Israel do sul do Líbano foi considerada por seus inimigos - e reivindicada pelo Hezbollah - como uma derrota do poderoso Estado judeu. O Hezbollah assumiu o mérito disso, com razão. Seus ataques persistentes esgotaram Israel. No final, os israelenses acabaram se retirando e a ONU prometeu uma fronteira segura. O Exército libanês cuidaria dela (e até agora nada fez).
Todas as advertências tornaram-se realidade. No entanto, a retomada desses territórios seria pior. Israel bruscamente voltaria à antiga posição, subjugando uma população irada e impaciente e, aos olhos do mundo, cometendo os inevitáveis pecados próprios de uma potência de ocupação. A decisão inteligente será retornar às fronteiras que são defensáveis, embora não sejam intransponíveis. Significa sair da maior parte da Cisjordânia e esperar que (e ter esperança de que) a história tome um rumo distinto.
Isso vai levar algum tempo e, nesse intervalo, as ações terroristas e os ataques de foguetes continuarão.
Em seu livro a ser lançado,
The War of the World, o historiador britânico Niall Ferguson dedica um espaço considerável à horrível história dos judeus na Europa dos séculos 19 e 20. E não pensemos no Holocausto.
Em 1905 ocorreram massacres de judeus em 660 lugares diferentes da Rússia e mais de 800 judeus foram assassinados, tudo isso em menos de duas semanas. Esta foi a realidade da vida
para muitos judeus da Europa.
Não surpreende que tantos tenham emigrado para Estados Unidos, Canadá, Ar
gentina ou África do Sul.
Não surpreende que outros tenham abraçado o sonho do sionismo e ido para a Palestina, primeiro uma colônia da Turquia e depois da Grã-Bretanha. Na verdade, fugiram para salvar suas vidas. E muitos dos que ficaram - 97,5% dos judeus da Polônia, por exemplo - foram mortos no Holocausto.
Outro talentoso historia
dor britânico, Tony Judt, concluiu seu recente livro,
Postwar, com um epílogo sobre como é indispensável que o Estado civilizado moderno reconheça o Holocausto. Grande parte do mundo islâmico, sobretudo o Irã sob a presidência de Mahmud Ahmadinejad, que nega o Holocausto, permanece fora desse círculo e se recusa a dar mesmo um pequeno espaço para os judeus da Europa. Considera Israel não um engano, mas um crime.
Enquanto essa visão não for mudada, a guerra mais longa do século 20 vai persistir no século 21. Para Israel será melhor se conformar.
?


*Richard Cohen é colunista do ´Washington Post´

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1 comment:

Anonymous said...

Bonjorno, linhadesombra.blogspot.com!
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