Saturday, August 22, 2009

A economia mundial voltou ao caminho do crescimento?

A Bolsa brasileira sobe 90% no ano. Revistas de negócio mais uma vez afirmam que vivemos uma Era de Ouro; o canal Bloomberg é a estrela hollywoodiana da cartilha de investimentos. Podemos ser tão otimistas com a recuperação econômica global a ponto de esquecermos, mais uma vez, os fundamentos?

Me parece mais um momento de recuperação dentro de um período maior de depressão do que o contrário. Digo depressão e não recessão, pois a situação atual é muito mais séria do que muitos pensam. A diferença entre depressão e recessão é a espiral deflacionária, que desenvolvo abaixo. 

A chave para entendermos a atual crise econômica mundial é o conceito de "recessão do balanço patrimonial". O economista-chefe do Nomura, Richard Koo, lançou um livro no ano passado que explica muito bem o que é uma recessão de balanço. Esse tipo de recessão é o mesmo tipo que explica a Grande Depressão dos EUA nos anos 30 e o Japão durante sua década perdida (os anos 90 do século passado).

Resumidamente, a recessão de balanço acontece quando os preços dos ativos caem muito e as dívidas assumidas pelas pessoas para adquirir estes ativos se tornam muito maiores do que estes mesmos ativos valem. Assim, a pessoa fica com um patrimônio líquido reduzido. Volta-se para a redução de suas dívidas. E aí entra a espiral: a recessão leva a uma deflação de preços, desalavancagem financeira e, no fim, depressão.

Portanto, a oferta de dinheiro na praça, solução defendida por 11 entre 10 economistas, simplesmente não vai resolver a situação, porque a demanda por dinheiro é e vai continuar baixa! Para que tomar dinheiro emprestado se quero reduzir as minhas dívidas?

barrons-debt-charts-2009-08.gif

 
Uma derivada dessa ação é o excesso de capacidade produtiva que temos hoje no mundo. As empresas esperam a demanda atingir o atual nível de oferta - o que provavelmente acontecerá só daqui a muitos anos. Consequência dois: inflação baixa.
Redução de dívida com inflação baixa significa baixo crescimento do consumo. Como se vê no gráfico abaixo, o crescimento ano-ano das vendas no varejo dos EUA pode ser comparado aos piores momentos da história econômica daquele país:

retail-sales-combined-series-2009-07.png


A alternativa para apressar a recuperação do crescimento do consumo seria acelerar os "defaults" das instituições - um cenário tipo Grande Depressão 2. Nas duas realidades teremos um período de baixo crescimento pela frente.

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