Wednesday, December 27, 2006

Estudo exime BC de rigor excessivo no juro

Estudo apresentado no encontro da Associação Nacional dos Centros de Pós-graduação em Economia (Anpec) neste mês alimenta a discussão sobre se o Banco Central tem sido excessivamente conservador na política monetária. Os economistas Paulo Chananeco Barcellos Neto e Marcelo Portugal chegaram a uma polêmica conclusão: não houve exageros.

Geralmente, avaliações sobre as decisões do BC são feitas de maneira pouco formal e com doses de subjetividade. Os economistas procuram usar parâmetros mais concretos e científicos em seu julgamento.


O estudo calcula, em primeiro lugar, uma espécie de fronteira que separa o que seria uma política monetária excessivamente conservadora de uma política leniente. O marco usado é o que se chama taxa natural de juros - ou taxa de equilíbrio.


De forma simplificada, a taxa natural de juros é a que mantém a economia em pleno emprego e que não acelera nem desacelera a inflação. Num regime de metas de inflação, é aquela que mantém a inflação na meta e o nível de utilização da capacidade da economia compatível com o cumprimento desse objetivo.


O passo seguinte do trabalho foi comparar essa taxa natural com os juros reais que realmente aconteceram na economia. Se o BC colocou em prática juros reais maiores do que a taxa natural, significa que foi excessivamente conservador. Se os juros ficaram abaixo, foi leniente.


Os economistas calcularam uma taxa natural média (medida em termos reais, ou seja, descontada a inflação) de 9,55% ao ano, no período entre setembro de 1999 e setembro de 2005. Os percentuais foram calculados a partir de um modelo macroeconômico que procura reproduzir o equilíbrio entre oferta e demanda agregada.


"Se tivéssemos obtido uma taxa natural de juros de 2% ou 3%, por exemplo, poderíamos dizer que o BC tem sido muito conservador; e, se a taxa encontrada fosse 15%, aí diríamos que o BC foi menos conservador do que deveria ter sido", afirma Barcellos. "A conclusão é que o BC operou muito próximo do que seria a nossa taxa natural de juros."


Barcellos e Portugal compararam, mês a mês, quanto foi a taxa real de juros na economia com o que seria a taxa natural de juros nesses momentos. A conclusão é que, na média, os juros reais ficaram 0,01% abaixo do que seria a taxa natural de juros.


Em alguns momentos, como em fins de 2004, quando o BC começou a apertar a política monetária, os juros reais ficaram pouco acima da taxa natural. A partir de meados de 2005, ficam abaixo. Em ambos os casos a diferença foi pequena.


Nos dois momentos, porém, a distância não é muito grande.


Além de comparar os juros reais com a taxa natural, os economistas também procuraram confrontar a taxa natural com os juros reais que, imagina-se, o BC estaria procurando atingir em cada uma de suas decisões de política monetária. Sabe-se que os bancos centrais têm controle apenas da taxa de juros de curto prazo, mas não da curva de juros nominal de longo prazo. E que a taxa de juros reais efetivamente ocorrida depende, além dos juros nominais, também da inflação. Ou seja, pode haver uma distância entre o juro real ocorrido e o perseguido pelo BC.


Eles trabalharam com a hipótese de que o BC, a exemplo de outros BCs do mundo, fixa os juros reais de forma padrão, na qual metas de inflação são atingidas com menor custo possível em termos de crescimento.


Os economistas chegaram à conclusão de que, na média, o BC buscava na suas decisões juros reais 1,96% abaixo da taxa natural. Por esse termômetro, o BC esteve mais para leniente que para conservador. A boa notícia é que a taxa natural de juros muda ao longo do tempo - e que, daqui por diante, pode cair.

2 comments:

Mônica said...

hahã..entre essa taxa natural ou leniente, eu continuo pagando mais de 100% ao ano de juros.
Até hoje não entendi pra que servem todas essas explicações para uma lógica que só existe no Banco Central.

Paulo said...

É a lógica econômica....