Estudo apresentado no encontro da Associação Nacional dos Centros de Pós-graduação em Economia (Anpec) neste mês alimenta a discussão sobre se o Banco Central tem sido excessivamente conservador na política monetária. Os economistas Paulo Chananeco Barcellos Neto e Marcelo Portugal chegaram a uma polêmica conclusão: não houve exageros.
Geralmente, avaliações sobre as decisões do BC são feitas de maneira pouco formal e com doses de subjetividade. Os economistas procuram usar parâmetros mais concretos e científicos em seu julgamento. |
O estudo calcula, em primeiro lugar, uma espécie de fronteira que separa o que seria uma política monetária excessivamente conservadora de uma política leniente. O marco usado é o que se chama taxa natural de juros - ou taxa de equilíbrio. |
De forma simplificada, a taxa natural de juros é a que mantém a economia em pleno emprego e que não acelera nem desacelera a inflação. Num regime de metas de inflação, é aquela que mantém a inflação na meta e o nível de utilização da capacidade da economia compatível com o cumprimento desse objetivo. |
O passo seguinte do trabalho foi comparar essa taxa natural com os juros reais que realmente aconteceram na economia. Se o BC colocou em prática juros reais maiores do que a taxa natural, significa que foi excessivamente conservador. Se os juros ficaram abaixo, foi leniente. |
Os economistas calcularam uma taxa natural média (medida em termos reais, ou seja, descontada a inflação) de 9,55% ao ano, no período entre setembro de 1999 e setembro de 2005. Os percentuais foram calculados a partir de um modelo macroeconômico que procura reproduzir o equilíbrio entre oferta e demanda agregada. |
"Se tivéssemos obtido uma taxa natural de juros de 2% ou 3%, por exemplo, poderíamos dizer que o BC tem sido muito conservador; e, se a taxa encontrada fosse 15%, aí diríamos que o BC foi menos conservador do que deveria ter sido", afirma Barcellos. "A conclusão é que o BC operou muito próximo do que seria a nossa taxa natural de juros." |
Barcellos e Portugal compararam, mês a mês, quanto foi a taxa real de juros na economia com o que seria a taxa natural de juros nesses momentos. A conclusão é que, na média, os juros reais ficaram 0,01% abaixo do que seria a taxa natural de juros. |
Em alguns momentos, como em fins de 2004, quando o BC começou a apertar a política monetária, os juros reais ficaram pouco acima da taxa natural. A partir de meados de 2005, ficam abaixo. Em ambos os casos a diferença foi pequena. |
Nos dois momentos, porém, a distância não é muito grande. |
Além de comparar os juros reais com a taxa natural, os economistas também procuraram confrontar a taxa natural com os juros reais que, imagina-se, o BC estaria procurando atingir em cada uma de suas decisões de política monetária. Sabe-se que os bancos centrais têm controle apenas da taxa de juros de curto prazo, mas não da curva de juros nominal de longo prazo. E que a taxa de juros reais efetivamente ocorrida depende, além dos juros nominais, também da inflação. Ou seja, pode haver uma distância entre o juro real ocorrido e o perseguido pelo BC. |
Eles trabalharam com a hipótese de que o BC, a exemplo de outros BCs do mundo, fixa os juros reais de forma padrão, na qual metas de inflação são atingidas com menor custo possível em termos de crescimento. |
Os economistas chegaram à conclusão de que, na média, o BC buscava na suas decisões juros reais 1,96% abaixo da taxa natural. Por esse termômetro, o BC esteve mais para leniente que para conservador. A boa notícia é que a taxa natural de juros muda ao longo do tempo - e que, daqui por diante, pode cair. |
2 comments:
hahã..entre essa taxa natural ou leniente, eu continuo pagando mais de 100% ao ano de juros.
Até hoje não entendi pra que servem todas essas explicações para uma lógica que só existe no Banco Central.
É a lógica econômica....
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